ONU usará US$ 23 mi para dar comida no Haiti

Minhas perguntas são simples. E se desde quando a missão de paz tivesse chegado ao Haiti, houvesse o início de uma seqüência de investimentos na produção agrícola familiar de alimentos? Ao mesmo tempo, se tivesse havido medidas governamentais de protecionismo agrícola temporário (afinal, há sim protecionismo justificável para um país arrasado economicamente)? Aposto que provavelmente o problema a alimentação teria uma alternativa mais viável agora nesse crise de alimentos.

Como falei no último post, o arroz haitiano é sufocado pela importação barata da produção norte-americana. E, como isso causa crise, a ONU precisa distribuir mais alimentos. Há poucos dias, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) informou que está investindo mais recursos para expandir suas operações no Haiti. Segundo o PMA, cerca de US$ 23 milhões, o equivalente a mais de R$ 36 milhões, serão empregados em novos projetos de fornecimento de alimentos no país caribenho.

Uma terceira pergunta. Você sabia que a ONU compra alimentos para ser doados? Uma quarta pergunta. Sabia que entre os fornecedores de arroz do PMA também está os Estados Unidos? Os que forçam a derrocada do arroz haitiano ao vender a produção com tarifas achatadas são os mesmos que vendem arroz para a ONU doar aos haitianos. Ganham duas vezes sobre a miséria que criam. Certo? Agora, leiam essa notícia aqui e vejam o sentido das palavras.

Os Estados Unidos e a quebra do arroz haitiano

Em Cité Soleil, em 2004, conheci o barraco de madeira onde morava Magalie, sua mãe e dois casais de filhos. Na porta de sua casa tinha uma cortina de sacos de nylon estampados de bandeirolsa norte-americanas. Pouco tempo depois fui saber que aqueles sacos embalavam o arroz importado pelos haitianos, pois sua produção, antes autosuficiente, agora minguava. A quebra na produção do arroz, item básico da alimentação, é um exemplo de como a política agressiva dos Estados Unidos piora a situação dos países mais pobres. Por pressão dos norte-americanos e do Fundo Monetário Internacional (FMI), as tarifas alfandegárias foram achatadas e o arroz importado destruiu a produção nacional. Um estudo da organização não-governamental Oxfam, em 2005, descreve a origem da história.

Em 1995, o FMI forçou o Haiti a reduzir as suas tarifas aduaneiras para o arroz de 35% para 3%, o que resultou num aumento das importações de arroz em mais de 150% entre 1994 e 2003. Hoje, três em cada quatro pratos de arroz consumidos no Haiti vêm dos Estados Unidos. Isto pode ser boas notícias para a Riceland Foods of Arkansas, a maior unidade de processamento de arroz do mundo. Os lucros da Riceland subiram 123 milhões de dólares americanos de 2002 para 2003 graças, em grande parte, ao aumento de 50% nas exportações, sobretudo para o Haiti e Cuba. Mas foi devastador para os agricultores de arroz no Haiti, onde as regiões de produção de arroz registam agora das taxas mais elevadas de pobreza e malnutrição.

A ausência de produção nacional de grãos é uma das causas da atual crise dos alimentos no país mais pobre das Américas. E que pode piorar caso a inflação do preço dos alimentos siga em ascenção, como alertaram hoje as Nações Unidas. Também assisti dois vídeos muito legais da Aljazeera English sobre o Haiti. E são aqueles que mostram os pequenos campos de arroz e como a população recebe agora esse item básico norte-americano. Seguem os dois vídeos via You Tube.

PARTE 1

PARTE 2