Celestin, restavek e o tráfico de haitianos

Essa é a história visível de Simone Celesti, um jovem haitiana que cogitou se suicidar para escapar de anos de abuso de uma família na Flórida. Segundo o depoimento publicado pelo USA Today, ela teria sido retirada de sua família perto de Ranquitt, no Haiti, e levada para os Estados Unidos irregularmente. Assim como muitas foi explorada para o trabalho doméstico. Há casos relatados de abuso sexual com outras “adotadas”.

Essa foi uma das minhas primeiras impressões do Haiti em 2004. Em Porto Príncipe, bem no centro da cidade, próximo ao prédio de uma universidade, vi um muro pixado com a palavra “restavek”. Perguntei a um guia e ele me contou que em vários locais da cidade havia protestos contra esse modelo de “adoção internacional” que acaba por explorar mais as crianças já pobres e sofridas. Essa foi a imagem da fotógrafa Ana Nascimento em nossa viagem pela Agência Brasil.

Ana Nascimento/ABr

“O que é melhor? Ser pobre perto da família ou ser violentada longe dela?”. Foi a frase que não esqueço de uma mãe que conversei perto de um orfanato em Delmas, bairro de Porto Príncipe. Neste ano, pouco antes da realização do Fórum Global contra o Tráfico de Pessoas, em Viena, a Organização Internacional para a Migração lançou um vídeo contra o problema no Haiti. A estimativa (não sei como chegaram ao número) chega a mais de 150 mil crianças nesta situação no país.

“A falta de estatísticas e de qualquer outro tipo de informação nos limita a olhar as pegadas de uma criatura, cuja forma e tamanho ainda não se conhecem”, reconheceu o diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC, em inglês) no evento de Viena.

Estima-se que aproximadamente 2,5 milhões de pessoas são vítimas do tráfico de seres humanos e de suas várias formas de exploração, trabalho forçado ou prostituição, a cada ano. Os especialistas calculam que os lucros gerados pelas redes clandestinas ultrapassam US$ 31 bilhões por ano, sendo US$ 1,3 bilhão na América Latina.

Também deixo uma boa indicação de texto na internet que classifica a situação como a moderna escravidão haitiana. Também segue o link do blog da Daniela Alves que acompanha o tema internacionalmente.

Obs.: No meu PC, o vídeo tinha um “audível” descompasso entre a imagem e o som. Espero que dê certo para quem veja.

Préval pede fim das deportações a Bush

O presidente René Préval solicitou formalmente ao governo Bush que pare as deportações de imigrantes ilegais haitianos e, ao invés disso, lhes dê a permanência temporária – um documento chamado Statute of Temporary Protection (TPS). As informações foram publicadas no Miami Herald e clipadas pelo HaitiAnalysis. O governo está analisando a situação. Em 2004, um pedido semelhante do então primeiro-ministro Gerard Latorture, do governo de transição, foi negado.

”Levará alguns anos para nossos cidadãos se recuperararem das consequências das recentes tempestades e de outras catástrofes naturais que a precederam”, justificou Préval. “A prorrogação do TPS para haitianos iria proteger as crianças nascidas em solo norte-americano, bem como seus pais, e permitiria que o meu governo se concentrasse os seus recursos limitados à reconstrução econômica e política em vez de ter de prestar serviços sociais aos [deportados].”

Assim como Cuba, o Haiti está a poucos quilômetros de Miami, o que facilita tentativas de imigração em botes improvisados. Principalmente após tragédias naturais e ciclos de pobreza. Como aconteceu com o furacão Jeanne, em 2004.

Morre haitiano “goleador” da Copa do Mundo

O Haiti só marcou dois gols na única vez em que participou da Copa do Mundo de futebol. Foi em 1974 contra a Itália e a Argentina. O autor foi Emmanuel Sanon, que morreu aos 56 anos de idade, vítima de câncer no pâncreas. O atacante estava morando em Orlando, nos EUA, e morreu em sua casa. Clique no site da federação haitiana para ler a biografia do jogador.

Sanon abriu o placar para o Haiti contra a Itália, que, depois, virou o jogo. O atacante voltou a marcar contra a Argentina. O placar final foi 4 a 1. Na última partida, a Polônia goleou o time haitiano por 7 a 0. Em 1999, foi escolhido como o “atleta haitiano do século”. A participação do Haiti em Copas é minúscula, mas o gol abaixo fez de “Manno”, seu apelido, uma estrela.

O time atual de futebol continua sua preparação para as eliminatórias. Aguarda o vencedor de Nicarágua e Antilhas Holandesas.

Onde Timor Leste se cruza com o Haiti

O post do Leonardo Sakamoto comenta a situação atual do Timor Leste. Aproveito o gancho para indicar onde acho que a realidade timorense se assemelha com a do Haiti. Numa análise mais abrangente, é mais fácil encontrar diferenças, mas ambos países viveram recentes missões de paz da ONU. Os dois passam por situações de construção de estruturas mínimas de funcionamento da democracia. E Haiti e Timor também são países extremamente pobres com recorrentes problemas de violência e instabilidade política.

A pergunta é: por que será que o atual modelo de missão da ONU não dá conta de resolver de maneira mais permanente os problemas de países subdesenvolvidos? A diplomacia está longe de conseguir articular países em torno de interesses comuns, como a paz e o desenvolvimento sustetável. As relações internacionais estão à mercê dos interesses econômicos e políticos. A ONU reflete isso. O Haiti e o Timor Leste também. No modelo atual, podem melhorar somente em rompantes de solidariedade.

Desmatamento do Haiti e a matriz energética

Já pararam para pensar qual seria o desmatamento de florestas necessário para que cerca de 7 milhões de pessoas pudessem cozinhar, aquecer-se ou construir suas casas? Pois este é o Haiti que verão nesta reportagem do Washington Post.

É a história de pessoas que sobrevivem da derrubada de árvores, que, segundo a ONU, cobrem apenas cerca de 4% do território hatiano. Isso porque sua área foi desvatada desde expansão da cana-de-açúcar na colonização francesa até os tempos atuais.

Ariana Cubillos/AP

O Haiti Innovation publicou um post com alternativas para a matriz energética haitiana.

Número de brasileiros no Haiti subirá para 1.300

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reafirmou ontem que o presidente Lula encaminhará “em breve” ao Congresso Nacional uma mensagem solicitando o aumento de 100 soldados para a força de paz no Haiti. Isso aumentaria o efetivo da companhia de engenharia, que atualmente faz afastamentos, cava poços e trata água em Porto Príncipe. As declarações do ministro foram dadas durante a apresentação dos oficiais do próximo contingente (o nono) a seguir para o Haiti. Eles também participaram de um curso sobre logística, inteligência e direito humanitário.

A decisão de aumentar o efetivo foi um tema herdado da gestão do ex-ministro Waldir Pires. Na primeira oportunidade do ministro de lidar com a situação do Haiti, depois do afogamento da crise aérea, Nelso Jobim conversou com os comandantes das Forças Armadas. A dúvida era: devemos aumentar o efetivo simplesmente para comportar mais engenheiros ou reduzir o número de soldados e trocá-los por engenheiros? Venceu o primeiro argumento por convencimento dos militares sob a alegação de que a segurança “ainda é frágil” no Haiti. E o contigente seria necessário para manter a ocupação de áreas problemáticas como Cité Soleil.

José Cruz/ABr

O que Camile Chalmers disse…

O economista e educador haitiano Camile Chalmers é o intelectual que mais compareceu às diversas edições do Fórum Social Mundial para discutir o futuro do país mais pobre das Américas. Chalmers é secretário-executivo da organização Plataforma Haitiana para o Desenvolvimento Alternativo (Papda), entidade não-governamental que deu o apoio conceitual e logístico para a realização da Missão de Solidariedade ao Haiti, chefiada pelo prêmio nobel argentino Adolfo Pérez Esquivel. Abaixo algumas frases dele:

Podemos dividir o período de Aristide em três. A primeira fase, em 1991, quando ele era a grande liderança e sofre o golpe. O segundo, em 1994, quando reassume o poder e já volta muito influenciado pelas idéias de Washington. E o terceiro momento quando se elege em 2001 e fica até 2004, quando há novo golpe. Nesse momento, sua administração é contestada pelos EUA, que financia os opositores ao governo, o que acaba gerando a intervenção que vivemos hoje. Em 2004, havia um descontentamento popular com o governo, mas Aristide foi derrubado pela CIA, que financiou ex-militares para lutarem contra o governo. Só que antes do golpe se concretizar, Aristide distribuiu armas a grupos populares de Porto Príncipe que estavam a seu favor, para defender o governo. E por isso hoje grupos populares têm armas pesadas em seu controle.

A presença de MINUSTAH, que se inseriu em um contexto mundial e regional particular, nos parece como um ensaio, um laboratório do imperialismo para poder responder a novos cenários de crise na América Latina, justificando a presença militar de soldados estrangeiros pelo discurso da solidariedade sul-sul; de apoio fraterno, quando sabemos que a presença de MINUSTAH se insere em uma estratégia mais ampla de militarização do Caribe, que é uma zona estratégica para o imperialismo e também coincide com a época onde as tropas estadunidenses estão mobilizadas no Iraque e necessitam colaboração das tropas de outras nações.

Não há uma cifra geral (sobre o número de mortos durante a missão de paz); porém, no operativo militar do dia 22 de dezembro de 2006, morreram entre 27 e 35 civis, e isso somente em um dia. Houve vários outros operativos, organizados depois. Há um informe sendo elaborado que trata de estabelecer o resumo da situação. O certo é que estão sendo produzidas baixas de gente totalmente inocente, cujo único crime que cometeram foi viver em um bairro de pobres. É muito chocante que uma força militar desse tipo tenha cometido esse tipo de violação dos direitos humanos e que em nenhum momento a diligência dessa força tenha reconhecido essas baixas e não tenha dito que vão começar uma investigação para estabelecer as responsabilidades. Atuam de uma maneira muito descarada, com uma impunidade total e uma situação de não respeitar a vida humana e os direitos do povo do Haiti.

MP da TV pública, a caminho da votação

Ninguém arrisca bater o martelo na fácil solução (rejeição ou aprovação) da Medida Provisória 398, que uniu duas estruturas de comunicação (Radiobrás e Acerp) para gerar a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). O fim da CPMF está quentinho ainda do forno, mas o tema “comunicação pública” não tem mostrado lá tanto o interesse para os parlamentares. A votação deve ser na próxima semana e o relatório do texto foi apresentado com algumas mudanças sobre as emendas apresentadas.

Aqui, alguns textos sobre o tema:

TV Brasil terá cotas e receita de R$ 150 milhões via tributos
Uma Radiobrás sem ”eira”?
TV pública, os méritos de uma MP
Relator propõe contribuição para financiar TV pública
Sociedade civil pede a aprovação da MP que cria a TV Brasil

A estratégia às avessas

Em dezembro, a missão da ONU no Haiti fez uma campanha para alertar as crianças haitianas do perigo das armas (inclusive com as de brinquedo). Parece uma iniciativa para uma ação preventiva. Agora, sinceramente, acho que não adianta encarar as coisas assim. Segundo estimativas da Oxfam, o país caribenho tem pelo menos 300 mil armas leves, a maioria ilegais, a solta pelas ruas. Sem uma estratégia de desarmamento, iniciativas assim servem apenas para boas fotos de propaganda. Como esta aqui da ONU.

Cartão coorporativo e a esquerda de Sísifo

Aqui o link para a íntegra do comentário que fiz no post do blog do Rodrigo Savazoni em relação à acalourada discussão da postura da imprensa e do governo Lula nas denúncias dos cartões coorporativos do governo federal.

Ninguém em sã consciência descarta o poder de manipulação (e oposição) da imprensa brasileira. O problema é que esse argumento serve para justificar inclusive os erros cometidos pelo governo, seja ele qual for.

Estamos criticando um fato que se encerra em si. O argumento da relativização serve à democracia na maioria das vezes, mas também é papel de quem precisa se agarrar em algo para defender o governo numa hora em que os fatos o sufocam.

obs.: na segunda-feira, o tema continua na mídia com a entrevista do ministro da CGU, Jorge Hage, no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Eleições dos EUA e o futuro do Haiti

As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm repercussões mundiais. Cada partido, ou melhor, cada candidato vai adotar posturas diferentes que vão influenciar o mundo. Na última campanha, por exemplo, quando o então candidato democrata John Kerry comentou sobre a possibilidade de retorno de Jean Bertrand Aristide ao Haiti os protestos e a violência aumentaram. Então, os ecos da política norte-americana reboam muito rapidamente por lá.

Um pouco de história. O governo democrata de Bill Clinton foi quem organizou a intervenção para derrubar a ditadura militar em 1994. Dez anos, os fuzileiros norte-americanos, apoiados por canadenses, franceses e chilenos, retiraram Aristide de lá. Depois se mantiveram em pontos importantes da missão de paz da ONU (polícia internacional e núcleo de inteligência) e acompanhando a diplomacia relacionada ao Haiti (a embaixada dos Estados Unidos exerce um poder imenso sobre o país caribenho.

Nas prévias eleitorais, Obama, Hillary e McCain citaram várias vezes o tema da política internacional, principalmente Iraque. Mas ainda não vi nada aprofundado sobre o Caribe e especificamente sobre o Haiti. No blog do Pedro Doria, há uma referência de McCain ao papel desempenhado pelo Brasil no Haiti. É igual ao discurso da atual secretária de Estado, Condoleezza Rice. No Democracy Now! há referências sobre os assessores de Obama que ajudaram a impor a recente política econômica conservadora no Haiti. Em novembro, o Haiti Justice Blog também fez um post sobre a relação com as eleições, o que gerou vários comentários.

Vou aguardar o tema e comento no blog. Enquanto isso, deixo o link da página do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre a história do Haiti. O que acham?

O que Celso Amorim disse…

Mais uma da série sobre opiniões de autoridades, pesquisadores e intelectuais sobre a situação recente do Haiti. Deste vez, procurei os argumentos do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, um dos principais articuladores da presença do Brasil na Minustah. É ele quem articula, junto ao secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães, as posições sobre o futuro do Brasil na ONU e no Haiti. Seguem:

A missão do Haiti não foi feita com esse objetivo (de favorecer a obtenção de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU). Ela faz parte de uma preocupação brasileira. A situação de total insegurança de um país da América Latina é algo preocupante. Não podemos ficar dizendo que somos contra uma ação porque não tem o aval da ONU (se referindo ao Iraque) e quando tem o endosso (no caso do Haiti) lavar as mãos. Se isso vai contribuir para o Brasil ser membro permanente no Conselho ou não, não sei. A paz tem um preço. Ou você vai e atua, ou você vai pagar sob a forma de dependência, de menor influência política. O Brasil é um país importante no cenário internacional e temos que dar uma contribuição. (2004)

No Haiti há questões de pobreza, de criminalidade, e de política. Uma combinação explosiva por natureza. Não creio que a repressão indiscriminada seja a melhor maneira de lidar com essa situação. (2005)

Muitas vezes repeti que o sucesso da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti se baseia em três pilares interdependentes e igualmente importantes: a manutenção da ordem e da segurança; o incentivo ao diálogo político com vistas à reconciliação nacional; e a promoção do desenvolvimento econômico e social. (2005)


Bon Bagay Haiti no topo

Registro que depois de quatro meses da sua publicação na Agência Brasil, o documentário Bon Bagay Haiti ainda é a entrada mais comentadas/blogadas do site. Veja aqui a lista do acumulado do ano. Muita água rolou desde então: este blog cresce rápido, mudei-me para São Paulo e entrei na Repórter Brasil. Vou buscar inscrever o documentário em algumas exibições internacionais também para ampliar a discussão do Haiti.

Deu empate na revanche

Continua aqui a maior e única cobertura em português dos amistosos entre as seleções de futebol da Venezuela e do Haiti. O segundo jogo da série foi um empate em 1 a 1. Desta vez no estádio olímpico de Puerto La Cruz. Quem marcou primeiro foi o Haiti, com Brunel Fucien, que deu um chute rasteiro que surpreendeu o goleiro venezuelano Leonardo Morales. A Venezuela só empatou aos 31 minutos do primeiro tempo. Rondín aproveitou o descuido da zaga haitiana e cabeceiou para o fundo da rede.

Haiti 0 x 1 Venezuela

Como prometi, aqui estão as informações do amistoso entre as seleções de futebol do Haiti e Venezuela. A única cobertura brasileira com mais de três parágrafos (!). Em meio ao carnaval e as discussões sobre a política entre Venezuela e Colômbia, o amistoso aconteceu no Estádio Monumental, em Maturín, aquele mesmo que viu três gols de Robinho em julho do ano passado.

O resultado final foi 1 a 0 para a Venezuela com gol de Zurdo Rojas ainda no primeiro tempo. Pelo que pude ouvir em transmissão de rádio via internet, o jogo não foi lá essas coisas. Aliás, nem esperava isso. O público foi de 32 mil pessoas, segundo apuração da Agência Bolivariana de Notícias. O Haiti ainda tentava contra-ataques rápidos mas não conseguiu marcar.

ABN

O elenco da “Vinotinto”, como é chamada a seleção na Venezuela, foi inovador na primeira partida do novo técnico César Farias: Leonardo Morales, Dickson Díaz, Grenddy Perozo, Gabriel Cichero, José Granados, Evelio Hernández, Franklin Lucena, Tomás Rincón, Jorge “Zurdo” Rojas, Emilio Rentería e Armando Maita.

O time haitiano que entrou em campo – Fenelon Gabart, Frantz Gilles, Bruny Pierre Richard, Windsor Noncent, Romaní Genevois, Frantz Bertin, Alain Vubert, Meter Germain, Charles Davidson, Alcénat Jean Sony y Abel Thermeus. Dois dos titulares jogaram contra o Brasil, em 2004.

As duas equipes estão disputando as eliminatórias regionais da Copa do Mundo. A Venezuela na disputa da América do Sul está em quinto lugar, com quatro jogos, duas vitórias e duas derrotas. Com técnico novo, a seleção tenta se aprimorar para a próxima fase da competição que dá acesso à Copa de 2010 na África do Sul.

O Haiti entra somente na segunda fase das eliminatórias da América Central, do Norte e Caribe. Jogará seu primeiro jogo com o vencedor de Nicarágua e Antilhas Holandesas. Veja aqui minha análise sobre as chances do time se classificar para a Copa. O último campeonato do Haiti foi a Copa Ouro, da qual foi eliminado por 2×0 pelo Canadá.

Veja o histórico e os próximos jogos dos dois times. Dia 6 tem o segundo jogo.

Além de biscoitos, a geografia da fome

Como país mais pobre das Américas, o cotidiano do Haiti para grande parte das famílias é uma eterna busca por comida. Escrevi antes aqui sobre a reportagem “hit” sobre os biscoitos de terra, outros, como o Haiti Inovation, também repercutiram. Mas essa é uma pequena amostra do panorama de insegurança alimentar. O Haiti possui dificuldades para a garantia da alimentação das pessoas. Seja na capital Porto Príncipe ou no interior do país com o campesinato.

O interior do país foi um bom produtor agrícola, principalmente arroz. Sua produção foi esmagada com as suscessivas pressões dos norte-americanos. De exportador de arroz virou importador. A produção agrícola familiar foi acabando gradativamente desde o final da década de 80. Atualmente, a maioria dos produtos básicos são importados: carne bovina, arroz, feijão e trigo.

Hoje, li no site do Haitianalysis.com uma feroz crítica ao “rótulo” que pegou na imprensa mundial sobre a melhoria da situação dos haitianos pobres após a missão de paz. O editorial, redigido por Wadner Pierre, cita essa busca por comida como o mais brutal efeito da desigualdade social. Isso porque o custo de vida tem aumentado e os programas sociais continuam inexistindo.

Dizem-nos mais e mais que as coisas estão melhorando, que as Nações Unidas estão aqui, mas isto é hipocrisia. A situação está pior é claro para aqueles que moram nas favelas. (…) Vá até os bairros pobres ver onde a pobreza é grande e dizer ao mundo o que está acontecendo. É nosso dever. É uma necessidade da verdade. Temos de dizer às pessoas a verdade.

Já pensou em falar creoule? Eu sim…

No blog do Deak, li um comentário da Paula Skromov, integrante do Comitê Pró-Haiti Brasil, sobre uma instituição em São Paulo que dá aulas de creoule haitiano. Isso é que é intercâmbio cultural. A Sala Sequoia ensina também guarani, aymara, quechua, yorubá. A seguir um resumo da aula de creoule.

As aulas são ministradas pelo prolífico professor Firto Regis. Ele é natural de Cap Haitien, ao norte do Haiti. Nas aulas, ele comenta as pequenas diferenças existentes entre o kreyòl do norte e do sul do país, e também as diferenças entre a elite rica e a maioria da população.

Agora, que moro e trabalho em São Paulo, vou checar os horários para ver se entro na turma. Até porque só ensaio algumas palavras do creoule. 🙂

Biscotos de terra… o eterno retorno

Não sei direito quem recomeçou, mas acho que foi o The New York Times. Alguém deve ter feito isso antes também. Não sei, não procurei. Mas depois do jornalão norte-americano, dezenas de jornalistas fizeram esta reportagem – mostrar uma “comida” haitiana chamada “té”, um biscoito feito com terra colhida na região de Hinche, manteiga, água e sal. Isso mesmo, uma espécie de cookie de lama. O assunto virou coqueluche da imprensa que foi até o Haiti nos últimos quatro anos.

Na última semana, recebi em meu leitor de RSS uma centena de entradas em blogs e sites reproduzindo uma notícia da Associated Press. Virou hit pelos blogs. Veja o resultado da busca do Technorati. Em 2006, quando eu estava na Agência Brasil, fizemos uma pequena descrição da iguaria um dia depois de uma equipe do SBT. As fotos abaixo são do fotógrafo Marcello Casal Jr.

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Os biscoitos são uma forma de complemento precário da alimentação para muita gente pobre, mas também é moda para mulheres grávidas, carentes ou não, com o argumento de aumentar o ferro no sangue. O risco maior é a cólera, porque a água da massa não é tratada. Eu preferi não experimentar.