Os Estados Unidos e a quebra do arroz haitiano

Em Cité Soleil, em 2004, conheci o barraco de madeira onde morava Magalie, sua mãe e dois casais de filhos. Na porta de sua casa tinha uma cortina de sacos de nylon estampados de bandeirolsa norte-americanas. Pouco tempo depois fui saber que aqueles sacos embalavam o arroz importado pelos haitianos, pois sua produção, antes autosuficiente, agora minguava. A quebra na produção do arroz, item básico da alimentação, é um exemplo de como a política agressiva dos Estados Unidos piora a situação dos países mais pobres. Por pressão dos norte-americanos e do Fundo Monetário Internacional (FMI), as tarifas alfandegárias foram achatadas e o arroz importado destruiu a produção nacional. Um estudo da organização não-governamental Oxfam, em 2005, descreve a origem da história.

Em 1995, o FMI forçou o Haiti a reduzir as suas tarifas aduaneiras para o arroz de 35% para 3%, o que resultou num aumento das importações de arroz em mais de 150% entre 1994 e 2003. Hoje, três em cada quatro pratos de arroz consumidos no Haiti vêm dos Estados Unidos. Isto pode ser boas notícias para a Riceland Foods of Arkansas, a maior unidade de processamento de arroz do mundo. Os lucros da Riceland subiram 123 milhões de dólares americanos de 2002 para 2003 graças, em grande parte, ao aumento de 50% nas exportações, sobretudo para o Haiti e Cuba. Mas foi devastador para os agricultores de arroz no Haiti, onde as regiões de produção de arroz registam agora das taxas mais elevadas de pobreza e malnutrição.

A ausência de produção nacional de grãos é uma das causas da atual crise dos alimentos no país mais pobre das Américas. E que pode piorar caso a inflação do preço dos alimentos siga em ascenção, como alertaram hoje as Nações Unidas. Também assisti dois vídeos muito legais da Aljazeera English sobre o Haiti. E são aqueles que mostram os pequenos campos de arroz e como a população recebe agora esse item básico norte-americano. Seguem os dois vídeos via You Tube.

PARTE 1

PARTE 2