Rastro de desespero do furacão em Gonaives

O Senado haitiano, no dia da aprovação do nome da nova primeira-ministra, declarou estado de emergência na cidade de Gonaives, que ficou completamente inundada pelo furacão Hanna. Mais de 150 mortos são confirmados até agora. A cidade é a mesma que foi devastada pela tempestade tropical Jeanne, em 2004. A região deixou está quase isolada do país, pois as estradas da capital até lá são péssimas e estão submersas. O Miami Herald fez a melhor descrição até agora da passagem do furacão por lá. Reproduzo um trecho traduzido livremente quando a repórter Jacqueline Charles conta a história desesperadora de uma família atingida pelo furacão.

Em seu terceiro dia sem alimentos ou água, Fleurie Benita anda com dificuldade pela alta camada de lama, equilibrando suas posses na cabeça, com a incerteza do que fazer e do que está por vir. A cada passo, a mãe de quatro filhos recorda as ofuscantes cortinas de chuva e o som da morte batendo à sua porta. E então sua desesperada decisão. ‘Peguei as crianças e corri. Nós corremos para a casa de um vizinho’, disse Benita, 24 anos, que como muitos outros conseguiram ter sucesso ao desafiar a devastadora chuvarada da tempestade tropical Hanna para salvar sua vida. ‘A água nem sequer deixou uma cama para eu dormir. Até as vasilhas e as panelas foram levados embora’.”

Um dos filhos de Benita se enchia de lama enquanto, sem qualquer roupa, tirava as coisas da casa. A fotógrafa do jornal norte-americano fez a seguinte foto.


Na página oficial da Minustah, sigla da missão da ONU no Haiti, há uma nota de que o acesso à cidade de Gonaives, capital do estado de Artibonite, ainda é impossível. “Muitos bairros ainda estão alagados. Muitas estradas do estado, tais como Gros-Morne Pilatos, Gros Morne-Bassin Bleu ou rodovia Marmelade estão interrompidas, resultando no isolamento de muitos municípios”. As agências da ONU estão mobilizadas para tentar atenuar o sofrimento nos locais mais atingidos.

A BBC traz o pronunciamento do coordenador de ajuda humanitária da ONU no país, Joel Boutroue, que contabiliza 600 mil pessoas que necessitam de ajuda. Em Gonaives, segundo ele, 70 mil estão amontoados em abrigos temporários. Como a cidade é costeira, a elevação de dois a três metros no nível das águas inundou boa parte das ruas e casas. O número exato de vítimas pode só ser conhecido depois que as águas baixarem. Com o Jeanne também foi assim. Corpos submersos foram aparecendo ao longo dos dias.

Gonaives é uma das principais cidades do interior do Haiti e tem um significado histórico por ser um dos focos do movimento dos ex-escravos que conquistou a independência do país. Depois de três dias de chuvas e alagamentos, o Haiti precisa de ajudar suas vítimas e já se preparar para a chegada do furacão Ike de categoria 4 numa escala de cinco. Para ver um pouco mais sobre a área de formação das tempestades, veja o infográfico do National Hurricane Center, sediado em Miami.

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